terça-feira, 19 de maio de 2009

Estão falando do Mangue por aí...
Vamos a compartilhar com vocês um texto súper legal que apareceu no dia 3 de maio/2009, no Caderno 2 do Jornal A Gazeta (ES).


É uma crônica escrita por Bernadette Lyra, curadora da Mostra de cinema de Bordas, acontecida no mês de abril, no Itaú Cultura, em São Paulo, da qual participamos com o "Mangue Negro"






Dois Filmes Capixabas e Uma Mostra de Bordas
(Bernadette Lyra)


Alguns leitores vêm me escrevendo para que eu explique o que é que eu chamo de cinema de bordas. Isso tudo por causa da Mostra que, na semana passada, aconteceu no Itaú Cultural, em São Paulo, da qual eu e Gelson Santana fomos os curadores. Eu explico sim, meus curiosos. É o nome que damos a certos filmes que são feitos de norte a sul do país, por gente que arruma uma câmera e sai por aí, juntando as histórias do lugar onde mora com tudo aquilo que já viu em outros filmes, em histórias em quadrinhos, em novelas de televisão e no que mais lhe vier à cabeça.
Não é preciso ser formado em cinema, nem muito menos ter muito dinheiro para fazer essas produções. Os recursos ficam perto de zero e os atores são os amigos, a sogra, a comadre da sagra, o papagaio, o cachorro, enfim o que passar pela frente e o diretor achar que dá um bom caldo. As histórias sempre são faroeste, kung-fu, aventuras nas selvas, comédias românticas, melodramas, ficção científica, terror e outros gêneros, Tudo alegremente misturado, juntado, remixado, já que esses corajosos e criativos realizadores não têm medo de pilhar e usar de segunda mão os tesouros comuns do cinema. O resultado dá calafrios e faz com que fiquem arrepiados os cabelos daqueles sujeitos que se consideram “os críticos de elite”
Agora, imaginem mostrar um lote desses filmes incríveis que catamos por todo o Brasil no endereço mais cult da Avenida Paulista! Claro que estou toda derretida com o glamour e com a badalação. Mas, o que mais me agradou nisso tudo foi que pudemos exibir os filmes de dois Cineastas capixabas. São eles: Seu Manoelzinho e Rodrigo Aragão.
Seu Manoelzinho é de Mantenópolis, cidadezinha que fica aí mesmo no Noroeste do Estado. De origem muito humilde, foi faxineiro e pedreiro até que descobriu sua paixão maior, que é fazer cinema. Então, pegou uma câmera caindo aos pedaços, juntou os camaradas, inventou umas histórias e desandou a filmar.
Mostramos “O Rico Pobre”, uma comédia chapliniana, mais que deliciosa. Contudo, Seu Manoelzinho já fez outros tantos. Inclusive, “O Homem sem Lei”, um faroeste com um cenário tão maravilhosamente improvisado e teatral que é um autêntico Lars Von Trier naif. Se fosse daquele famoso dinamarquês do “Dogma”, logo muitos “especialistas” estariam dizendo que é uma coisa de gênio!
Rodrigo Aragão mora em Guarapari. Não faz nenhum discurso eco-chato ou acadêmico, no entanto dirigiu “Mangue Negro”, um dos mais contundentes libelos contra a poluição dos nossos manguezais. Fez isso contando uma história arrepiante. São zumbis que, brotando da lama, espalham o medo, a podridão e a morte entre os moradores de um isolado local. “Mangue Negro” é tão belo em seu modo trash se ser e é tão poderoso em seu bonito horror que a platéia da Mostra, feita das mais diversas tribos afeitas ao cinema, saiu siderada depois da exibição.

Confesso que meu coração capixaba deu pulos ao escutar o ritmo do congo, logo na abertura do filme. Por isso, leitores queridos, a par da resposta que vocês me indagaram, eu aproveito e reverencio esses dois cineastas que falam ia!, taruíra e pocou, e têm nosso sotaque.
Ficamos emocionados com essas palavras, pois sempre defendemos a idéia de fazermos terror regional, con a cara do nosso estado, e assim, tá saindo daqui e conquistando outras platéias, como já aconteceu no Brasil a fora, em Buenos Aires, Santiago, Londres e em breve em Montevideo e México...