terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mangue Negro na IU










E bem, estamos indicados para o prêmio Omelete Marginal, que é da revista on-line INTERVENÇÕES URBANAS, nessa revista foi públicada uma matéria sobre o Rodrigo Aragão, seu trabalho e o MANGUE NEGRO, e tomamos a liberdade de botar uma parte da matéria aqui, no nosso blog. Para ler tudo é só acessar : http://www.iu.art.br/ e clickar nos trabalhos do colunista Toni Telles.


E é isso... obrigado Toni, por essa matéria!


[...]



MANGUE NEGRO – e o terror invade o manguezal:
















A idéia inicial era de um curta, passou pra um média e virou um longa, MANGUE NEGRO, o primeiro longa metragem de Rodrigo Aragão é um horror-suspense combinado com crítica social em relação à poluição do mangue e à corrupção física e espiritual da própria sociedade, um tapa na cara, e uma revanche contra quem achava que o gênero só poderia produzir violência sem sentido, a estória envolve ainda a questão da miséria e um amor platônico, mais que isso não se pode revelar sob pena de estragar a película, mas posso adiantar, sobra mesmo dentro deste contexto, espaço para muita ação e muito humor negro.



De qualquer forma o filme deve ser catalogado e respeitado historicamente pelo cinema nacional, por exemplo, é o recordista em cenas sangrentas do Brasil até agora, até quando parou-se de contar, já se havia gasto cerca de 700 litros de sangue até a metade das filmagens!


Para realizar esta nova obra prima do medo o diretor convocou um time de amigos e figurantes dispostos a dar o sangue nas filmagens, com direito a muitos ferimentos, hematomas, desmaios e hipotermia, (e olha a galera da Darkover de novo aí gente! Essa é estória pra outra matéria); além destes, reuniu um time de talentosos atores como Walderrama dos Santos, Kika Oliveira, Ricardo Araújo, Marcos Konká, André Lobo, Julio Tigre, Reginaldo Secundo e até este cara de pau que vos escreve. Como o próprio Rodrigo diz, não chamou ninguém que estivesse aquém do trabalho a ser executado, diferente da maioria dos artistas da atualidade, jamais buscou apoiar seus projetos em nenhum incentivo governamental nem em apoiar-se em leis de incentivo à cultura ou patrocinadores, Mangue Negro é literalmente um filme independente talvez um dos únicos do porte no mercado atual brasileiro.

Para tanto não firmou parcerias ou fez concessões o filme é o que é não se verá como na maioria dos filmes brasileiros os logos de governos estaduais, municipais e principalmente, do governo federal, não se comprometeu com ONGs ou associações de nenhum tipo, as pessoas verão por exemplo a exemplar atuação de Ricardo Araújo, como o velho na cadeira de rodas ficou perfeita, pois o artista é realmente paraplégico, mas diferente das ridículas manifestações adotadas pelos entes governamentais visando a dita “inclusão social”, isso não foi nenhum favor como alguns defensores de assistencialismo imbecil promovem, Ricardo foi convocado porque era o melhor para o papel, ele não é um “grande ator paraplégico”, ele é sim, um Grande Ator e ponto final!
Não poderia destacar ninguém, muito coração e alma em cada cena, mas o casal Kika e Walderrama vão fatalmente dar o que falar.

O filme já rendeu antes de sua exibição um documentário chamado de “Sob a Lama do Mangue Negro” elaborado pelo próprio Rodrigo Aragão com a ajuda do também excelente cineasta Maurício Junior (que também atua no filme).


A música tema seria foi feita pela banda capixaba alternativa ORLA SÔNICA mas as gravações ainda não ocorreram em razão de agenda (3 dos 5 integrantes do ORLA pertenciam ao CANNIBAL CLOWN que no momento se prepara pra voltar aos palcos, por isso a atenção com o ORLA SÔNICA foi para segundo plano), isso proporcionou outro bom resultado pro filme, como para gravar a música tema pra o ORLA SÔNICA, o amigo de longa data e Hermano, filho de Herman Pidner, DJ e ex-guitarrista da banda de grindcore FEBRE TIFÓIDE, entrou de cabeça no projeto fazendo boa parte da trilha sonora (30% mais ou menos)com lances eletrônicos e guitarradas, mais que isso, convocou outros músicos que também atuavam no filme e montou uma banda de metalcore com influências de EXTREME NOISE TERROR e BRUJERIA só que cantado em português para tocar no filme que acabou vingando e em breve estarão lançando o primeiro álbum, trata-se do SALMONELLA.

O áudio do filme ficou na mão do gaúcho Luciano Allgayrer, que fez excelente trabalho e a edição ficou por conta do próprio Rodrigo e de Maurício Jr, que também cuidou de detalhes técnicos de animação e de quebra como todo mundo inclusive o próprio diretor, também atua no filme.
Ainda sobre a trilha sonora, Hermano Pidner nãom se limitou ao rock, ao Techno e às músicas com a banda, mas como o ORLA SÔNICA encontrava-se impedido de participar assumiu também os encargos de criar os climas com música regional caiçara capixaba.


O grande destaque vai para os outros 70% da trilha sonora, isso mesmo, 70% da trilha sonora do MANGUE NEGRO foi e executada pela ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESPÍRITO SANTO, e a homenagem do filme vai para o falecido maestro Jaceguay Lins.


O makin of e fotografia da produção ficaram a cargo de Maurício Junior, Giovani Coio com a participação de Ulisses de Bian. A parte técnica ficou a cargo do fiel escudeiro de Rodrigo , Vitor Hugo Medeiros e muitos outros que trabalharam, ralaram e deram duro pra colocar a coisa toda pra funcionar.


O diretor Rodrigo Aragão ainda deve trazer muitas surpresas e novos filmes, quando lançou o projeto Fábulas Negras, uma compilação de vídeos dos videomakers de Guarapari e suas produtoras, o título do DVD era “CONTOS DE GUARAPARI”, e trazia 7 curtas, sendo 3 da PESTILENTO FILMES (”Mulher de Algodão”, “Cachorro do Mato”, “Cachorro do Mato 2″), 2 curtas da JAVALI FILMES (”La Puta” e “Balada Sangrenta”) 1 da GÓTICA PRODUÇÕES (”Chupa Cabras”) e mais um curta de Ricardo A., Jr Pizza e Hermano P. (”O Peixe Podre”); talvez o próprio Rodrigo não imaginasse a repercussão que causaria, foi quando resolveu extinguir a GOTICA, e montar sua nova produtora mais bem estruturada, com estúdio, sets de filmagem e equipamento próprio, atualmente é lá que é produzido pela já mencionada dupla Maurício e Hermano, o programa de TV bizarro, o Cultura Nativa.


Agora, com um QG como base de filmagens e as infinitas locações que nosso estado possui, tão infinitas quanto as idéias de Rodrigo, podemos esperar pelas novidades, já que o monstrólogo está apenas começando, e tal como Don Quixote (figura que o facina, posui até uma tatoo do mesmo nas costas) talvez por ser um dos últimos cavaleiros a lutar por um cinema honesto e indie fora dos padrões “globais” ou por viver perseguindo gigantes, que esperamos não serem apenas moinhos.


O Filme seria lançado apenas em 2009 mas devagar a obra vai saindo do controle de seus criadores, já participou recentemente de um festival de cinema no Rio Grande do Sul e salvo engano há algo agendado para Curitiba/PR, concorre atualmente ao prêmio da revista OMELETE MARGINAL em várias categorias (melhor atriz de cinema, melhor ator de cinema, melhor diretor de cinema e melhor filme), no dia 1º de novembro será exibido em Santiago do Chile e em Buenos Aires, Argentina, estará participando do Festival de Cinema ROJO SANGRE, e é o 1º filme brasileiro que consegue se classificar em 9 anos, no dia 11 de novembro o filme estará participando do VITÓRIA CINE VIDEO, no dia 15 de novembro MANGUE NEGRO estará participando da AMOSTRA de VIDEOS FANTÁSTICOS de São Paulo.


E esse aparentemente é só o começo, assistam o filme e bom divertimento!


Eu vou ficando por aqui pois pois tudo tem que acabar, como diz o mote do MANGUE NEGRO, “a decomposição é inevitável”.
***

10 perguntas para um cineasta, antes do filme uma entrevista exclusiva com o mago dos efeitos, senhoras e senhores, com vocês, Rodrigo Aragão.
OM - Você é muito mais que apenas diretor, é um artista plástico completo, você pretende continuar atuando em outras áreas fora o cinema, ou seja pretende produzir obras de pintura, escultura e outras e promover suas respectivas exposições?


Cada tipo de arte é um prazer diferente, gosto de varias delas, mas o cinema é minha preferida.


OM - Quais são seus diretores preferidos e que mais te influenciaram no cinema?


Meus heróis são os americanos Sam Raimi (Evil Dead), Steven Spielberg de (Tubarão), e George Lucas (Star Wars); o neozelandês Peter Jackson (Fome Animal), o italiano Lucio Fulci (Zombie); e o pouco conhecido diretor espanhol Armando Osório (Ataque de los muertos sin ojos).


OM - Você sempre esteve meio envolvido com o meio musical, conte pros leitores da undervix, quais as 3 bandas capixabas que você mais curte, quais as 3 bandas nacionais(não valem bandas locais) que você mais curte, quais as 3 bandas gringas que você mais gosta e qual a sua banda predileta, quer dizer, a sua banda do coração mesmo?


Bandas Capixabas: gosto de varias por isto vou citar as bandas dos meus amigos: Salmonella daqui de Perocão, todos os integrantes passaram pelo Mangue; Cannibal Clown, do Toni, que faz um repugnante atravessador de caranguejos; e Índios do ano 7000, que tem o herói do Mangue Walderrama dos Santos como baterista.


Bandas Brasileiras: Gosto de um monte de coisas: Sepultura, Ultraje a Rigor e Camisa de Vênus.


Bandas Gringas: Gosto de Rammstein, Korn e Marilyn Manson.


E para a banda predileta, tenho que admitir que a coisa que mais gosto de ouvir, mesmo fugindo um pouco da pergunta, é Raul Seixas, que não é uma banda, mas é a coisa que eu mais escuto, a cara do rock brasileiro.


OM - Valeu por elaborar um top 10 musical pra nós, e como está indo a promoção e divulgação do filme, local, nacional e internacionalmente?


O filme será exibido em vários festivais nos próximos meses, em novembro no “Buenos Aires Rojo Sangre” e no “Santiago Rojo sangre”, onde estará concorrendo com longas de todo o mundo. O 15°vitória cine vídeo onde fará sua primeira exibição no estado. E na 3° mostra de curtas fantásticos de São Paulo.

OM - Já há algum novo projeto em andamento?


A série “Fabulas negras” que apresentará contos com vinte e cinco minutos de duração no mesmo universo que o mangue negro, personagens e lendas no interior do Brasil antigo e desprovido de tecnologias, claro que tudo com muito sangue e víceras.


OM - Fale um pouco sobre seus planos futuros.


Montar um núcleo de produção na aldeia de pescadores de Perocão, promover cursos de efeitos especiais, cenografia e atores, para assim descobrir novos talentos e agrupá-los a minha equipe.


OM - Seu trabalho como artista de efeitos especias e maquiagem tem um padrão internacional que o mercado interno parece não absorver, já pensou em chutar o pau da barraca, dar as costas pra tudo aqui e ir tentar a sorte lá fora?


Adoro o lugar onde vivo, não tenho a menor intenção de sair daqui, quero continuar filmando aqui. Estamos criando nosso próprio mercado.


OM - Você acabou por revelar novos e excelentes artistas, pretende manter o elenco com quem tem trabalhado ou sempre há oportunidade para novos talentos?


As duas coisas!


OM - Alguém em especial que você gostaria de agradecer sem o qual o filme não se realizaria?


Muitas pessoas, por isto seria injusto citar uma. Mas dedico o filme a o meu grande amigo Jaceguay Lins, que faleceu a alguns anos, mas deixou incrível, obra esta que tornou a trilha sonora do mangue negro única e memorável.


OM - Obrigado pela entrevista, o espaço é seu para se manifestar e falar aos internautas, go!


Não esqueçam de votar na gente no Prêmio Omelete Marginal! Assitam o Mangue negro! Dia 11 de novembro no vitória cine vídeo e em breve nas locadoras! Entrem no site http://www.manguenegro.com/
Abraço a todos
muito obrigado.
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domingo, 14 de setembro de 2008

Eu, zumbi



Quem acha que vida de zumbi é só andar por aí atrás de carne fresca, está muito enganado...


Eu, Zumbi é um texto de Giovanni Coio, amigo e colaborador da equipe do Mangue Negro. Nessa crónica ele nos conta como é a vida de um zumbi no mangue...



Eu, Zumbi
por Giovanni Coio, um dia de filmagem para o Mangue Negro.



Chegue cedo.
Esteja preparado.

Oito horas da manhã, um lindo dia de sol, temperatura amena, sábado.
Todos se divertem. Uns na praia, uns nos bares, uns em casa.
Saio de casa levando uma calça, camisa, sapatos, que não precise mais. Tudo velho, como solicitado.

Moro a menos de quinhentos meros da casa de R. Ele havia me convidado para ser participante de um dia de filmagem de seu novo filme. Eu já conhecia o projeto e tinha visto as primeiras tomadas. Claro que topei, - vai ser legal.

Do lado de fora do ateliê de R. numa área coberta, juntei-me à equipe que iria trabalhar na cena daquele dia. Eram maquiadores, formados por R. para preparar os Zumbis, mais os assistentes que davam apoio para a parte de figurino, rango, água. Duas câmeras, Mauricio (Pizza) e Thiago.

Em um semi-círculo de cadeiras, várias pessoas eram preparadas, sentadas, recebiam as primeiras camadas de verniz, como uma linha de produção, eram dezesseis Zumbis. Sentei-me numa cadeira e também recebi verniz na cara e nas mãos. Duas, três, quatro, cinco mãos tocam meu rosto, pescoço e mãos. Minha pele começou a repuxar, os olhos a arder, as narinas sendo invadidas pelo cheiro ácido. É um processo lento, constrói-se camada em cima de camada. Tem que ser convincente. E tem que resistir ao Mangue. Aplicam látex, silicone, trapos. Ali, na cadeira, imóvel, olhos fechados, ouço o burburinho do trabalho que não para.

Pausa para respirar. Cola isso, põe aquilo. Próteses preparadas por R. são habilmente utilizadas para produzir personagens horrendos, assustadores, asquerosos.

Passam-se quatro horas. Uma tortura. Na mesma posição, não pode mexer, não pode respirar, nem pensar.

Após estarmos prontos, fomos para um espaço desenvolver algumas caracterizações de comportamento zumbizístico. Como arrastar a pernas, como andar para um lado olhando para outro, como fazer sons de Zumbi. Como atacar em bando, como revirar os olhos. Em pouco tempo formávamos uma roda tenebrosa, estava muito bom, lindamente podres.

O lanche. Arroz de carreteiro feito por Dona Dalva (mãe de R.).

Todos alimentados, para o Mangue, nosso cenário. Fica perto, menos de um quilômetro, subindo na direção contrária à do mar. O material "material" vai de carro. Fios, lâmpadas, maquiagem, uns baldes de gosma, de sangue... rebatedores, água, mais rango ( a coisa vai demorar ). O material "humano", nós Zumbis e outros assistentes, vai a pé. Uma procissão como essa causaria espanto em qualquer lugar do mundo. Até aqui. Atraiu olhares curiosos e assustados por onde passamos.

- O que é isso? perguntavam.

Mangue, lindo Mangue.

No final da estrada que acompanha o Rio Perocão, junto ao Mangue, tivemos acolhida numa casa, onde havia um ancoradouro que consertava barcos, que nos propiciava acesso ao local desejado.
Nas entranhas.

Finalmente soubemos de que se tratavam os estranhos baldes cheios de coisas, fomos cobertos por gosma, muita gosma, para ficarmos com a bela aparência de Zumbis do Mangue. Recém-feita, estava quentinha, dava certo conforto, cobertos por uma camada de polvilho cozido.???

Devidamente caracterizados, fomos entrando Mangue adentro, atolando o pé na lama, tropeçando em galhos submersos, subindo pelas raízes.

A cena se desenvolve durante a fuga de Júlio (O personagem deve ser devorado hoje) , devemos ataca-lo quando passar por nós.

Mergulhamos na água fria, escura. Para algumas tomadas, um a um, fomos saindo calmamente de dentro d’agua, filmados em close, depois, várias seqüências de perseguição, pulando por galhos, metade do corpo mergulhado, aquela gosma esfriando, a fome chegando, o corpo já doendo de cansaço, frio, já estávamos naquele ambiente há cinco horas. E era um tal de "mais uma, só para garantir", "agora mais um mergulho, vamos".

O céu, escurecendo, o sol, indo para trás das montanhas. A luz esvaia-se deixando as trevas aos poucos dominar tudo, quando ouvimos um "conseguimos a terminamos a cena". Viva!!
Nessa água começamos a nos limpar. Muito difícil, conseguimos tirar apenas a parte mais exterior, a lama dos sapatos, dos cabelos, das roupas, alguma parte da gosma.

Como moro perto, fui para casa de bicicleta, cheguei e fui logo para o chuveiro, fiquei mais de meia hora esfregando com um monte de coisas, saí, sequei-me e passei então a limpar parte da maquiagem mais forte com algodão embebido em óleo de amêndoas.

O resto da maquiagem foi saindo aos poucos, nos travesseiros, lençóis, após uns dias, praticamente não havia mais nada. Nem de maquiagem nem de mim. Não agüentei o tranco e fiquei de cama, a coluna doía como nunca.

Foi quando decidimos que eu não poderia mais fazer aquilo, a "vida" de zumbi é muito dura para mim, então, me tornei o fotógrafo escondido da produção.


Rodrigo filmando na pedra.
Foto de Giovanni Coio

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Voltando do FantasPOA

Nós, da equipe do Mangue Negro, estamos felizes... quase extasiados. Depois de dois anos trabalhando intensamente, saímos da lama do mangue e do calor do Perocão, e fomos parar em Porto Alegre; mais especificamente no 4º FantasPOA (Festival Internacional de Cinema Fantástico) (de 28 de julho a 10 de agosto, de 2008)

Nosso filme foi recebido com os braços abertos, por um público expectante, e que (podemos dizer isso com orgulho) ficou satisfeito e feliz após a exibição do Mangue Negro.

Uma mostra de como foi nossa viagem por terras gaúchas, é o seguinte texto de Henrique Guerra, do Blog "Olhar Cinéfilo" (http://olharcinefilo.blogspot.com/)




"Mangue Negro
Fantástica realização de Rodrigo Aragão. Nascido em 1977 na comunidade de pescadores do Perocão, em Guarapari, cresceu no meio de muita imaginação e fantasia – o pai era mágico profissional e dono de cinema. Com esse background, nada menos surpreendente que, ao assistir filmes como O Império Contra-Ataca, de George Lucas, e Uma Noite Alucinante, de Sam Raimi, o menino ficasse entusiasmado por efeitos especiais e terror. O interesse adolescente estava lá, mas só com muito esforço transformou-se em habilidade para fazer efeitos eficientes e roteiros funcionais. Essa habilidade, desenvolvida e posta em prática nos curtas Chupa Cabras (2004), Peixe Podre (2005) e Peixe Podre 2 (2006), pode agora ser conferida em seu primeiro longa: Mangue Negro. O filme integrou a mostra de filmes fantásticos de Porto Alegre – o conceituado Fantaspoa – e também teve sessão no Clube do Cinema de Porto Alegre, na presença do realizador. Antes da sessão, o diretor capixaba disse que o objetivo dele ao fazer o filme era apenas possibilitar momentos de diversão ao público, deixando claro que se tratava de um filme com certo "nicho de mercado". Ao cabo da película (?) (o filme foi passado em dvd) a platéia estupefata pôde tecer considerações e críticas, tirar dúvidas e fazer perguntas. Uma dessas perguntas envolveu justamente o comentário de antes da sessão: qual a relação entre diversão e horror? O que há de divertido em colocar os heróis do filme na madrugada no meio de um mangue cheio de zumbis esfomeados e alucinados? A resposta concisa: o horror, para Rodrigo Aragão, é algo intrinsecamente divertido.




O custo do filme? Estarrecedoramente baixo para a qualidade do produto final: 60 mil reais, levantados com um empreendedor privado após assistir a 15 minutos do filme produzidos com sacrifício do elenco e da equipe, pagando despesas de transporte com dinheiro do próprio bolso.

Com simpatía, Aragão respondeu a todos, inclusive a mim, que perguntei o que diacho era um caramuru. Na minha ignorância de gaúcho, não sabia o nome dessa espécie de moréia do manguezal, de carne não muito apreciada, mencionada no filme. E como essa há outras referências bem regionais que dão a Mangue Negro sua autenticidade e visceralidade. Vísceras, aliás, não faltam. Nem sangue de mentira. Nada menos que setecentos litros de sangue (cuja receita inclui até chocolate) foram gastos nas filmagens, inteiramente realizadas no quintal da casa de Rodrigo - onde ele construiu com madeiras velhas os barracos que serviram de cenário e por onde passa o principal astro do filme: o mangue.

Logo na primeira cena o espectador é apresentado ao bizarro meio em que as ações ocorrem. Uma câmera meio Peter Jackson-meio Sam Raimi aproxima-se depressa de um bote e enquadra o rosto de Agenor dos Santos (Markus Konká), um pescador contador de causos que percorre lentamente o mangue em busca de um pesqueiro, na companhia do colega remador. A tomada tem grande eficácia para incitar a curiosidade, criar a atmosfera de suspense e introduzir as personagens.

Batista (Reginaldo Secundo) enterra as mãos na lama à cata de caranguejos cada vez mais escassos. A brejeira Raquel (Kika de Oliveira) lava roupas na beira do mangue para ajudar a mãe, presa a uma cama e deficiente visual. O tímido Luís (Walderrama dos Santos) ensaia uma declaração de amor. O asqueroso Valdê (Ricardo Araújo), pai de Raquel, recebe a visita do asqueroso atravessador (Antônimo Lâmego), que, enquanto espera um lote de caranguejos asquerosos, dá em cima de Raquel, para desespero de Luís. Mas, quando o mundo enlouquece e seres desvairados e esfaimados despertam do fundo do manguezal, Luís é obrigado a adiar os momentos idílico e a se preocupar com o essencial: salvar a pele (e a carne) da amada (e a sua também).

Em meio à gosma e ao sangue, Luís maneja a machadinha com perícia, tentando repelir o ataque irresistível dos zumbis à cabana. Quando a doce carne de Raquel é dilacerada por dentes infectos, a única chance passa a ser a preta velha Dona Benedita (André Lobo), que aconselha Luís a (em plena madrugada e no mangue infestado de mortos-vivos) pescar um baiacú, cujo fel pôde salvar Raquel. A preta velha é importante e bem interpretada, além de emprestar certo misticismo ao filme, mas o ritmo cai nessa parte. Aliás, no final, a túnica crítica feita pelos cineclubistas foi que o filme poderia ser um pouco mais curto.

Mesclando crítica ecológica e humor negro, fotografia dark e tomadas eficazes, Mangue Negro é um clássico do horror tupiniquim. A versatilidade do diretor lembra a de outro criador de efeitos especiais: Tom Savini, o responsável pelos efeitos dos filmes de George Romero. Com a diferença que Savini só estreou na direção em 1990, no remake de A noite dos mortos vivos.

O Tom Savini brasileiro logo na estréia dirige, cria efeitos especiais e roteiriza. Com a preensão apenas de divertir, mas despretensão não torna um filme bom. Talento, sim."

Agradecemos as suas palavras, a sua crítica, que nos levam a acreditar que não estamos no caminho errado.
A todos que apoiaram e apoiam o nosso projeto:
OBRIGADO PELA FORÇA!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Boas vindas!

Bem vindo ao blog da Produtora Fábulas Negras de Rodrigo Aragão.